Clássicos
Fora de Série Nacionais – Parte V
Esportivos
Fora de Série: Hoffstetter Turbo
Um dos projetos mais
interessantes de esportivos fabricados no Brasil, e que encantou muita gente
nos salões do Automóvel na década de
1980, o Hofstetter se caracterizava por estilo em cunha e formas angulosas,
destacando-se as portas do tipo asa de gaivota. O motor VW de quatro cilindros
com refrigeração líquida era equipado com turbocompressor, atrás dos bancos em
um chassi do tipo tubo central. Pneus de competição, os mesmos usados no Opalas
de Stock Car da época; freios a disco nas quatro rodas e suspensões
independentes faziam dele um verdadeiro esportivo. A única ressalva é que na
época não existia no país um motor digno para este modelo e nem era permitido
importar.
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| Alfa Romeo Carabo 1968 |
O projeto nasceu em
1973, quando Mário Richard Hofstetter, então com apenas 16 anos de idade,
começou a fazer um carro para quando completasse 18 anos e obtivesse sua
habilitação para dirigir. A ideia era possuir um carro de sonho, baseado em
dois modelos conceitos criados pelo designer italiano Giorgetto Giugiaro: o
Alfa Romeo Carabo, apresentado em 1968, e o Maserati Boomerang, de 1971. Estes
modelos nunca foram produzidos comercialmente, mas serviram de inspiração para
muitos, como o Lamborghini Countach, lançado em 1974.
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| Lamborghini Countach 1974 |
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| Maserati Boomerang 1971 |
O projeto e a
construção, feitos pelo próprio Mário Hofstetter, na garagem da casa de seus
pais, na Vila Mariana, em São Paulo, demorou mais do que o planejado e ficou
pronto somente em 1980. O chassi original era de um modelo de competição da
Divisão 4, categoria de competição em alta nos anos
80. O câmbio era Hewland e o motor era um Ford Hart 2 litros, que havia sido
usado por um monoposto March Fórmula 2 da equipe Willians, em 1972 . Não funcionou: o danado trabalhava a
nada menos que 12000 giros e se mostrou inviável para as ruas.
Andando
pelas ruas de São Paulo, Hofstetter era constantemente abordado por
interessados em comprar o carro. Ele partiu para desenvolver um projeto de
produção em série do modelo, mas com chassi apropriado também desenhado por ele
e carroceria em plástico com fibra de vidro. O motor era um VW MD 270, do
Passat 1.6, rapidamente substituído pelo AP 1.8 do Gol GT equipado com
turbocompressor que, com 0,9 bar de pressão, desenvolvia cerca de 185 cv.
O Chassi era do tipo tubo central em aço, com
suspensão dianteira e o sistema de direção do Chevette e na traseira a mesma McPherson
que o Passat utilizava na dianteira, porém invertida e câmbio também VW. Outros componentes
tinham origem nos Fiat 147, Opala, Corcel, Monza, Brasilia, Gol, caminhão Ford
F-4000... Até o ônibus Mercedes-Benz monobloco cedeu a palheta única do
limpador de pára-brisa. Numa tentativa de não enlouquecer proprietários e
mecânicos, um detalhado manual/memorial descritivo era fornecido juntamente com
o carro, com a finalidade de facilitar a identificação de peças na hora da
reposição.
Um dos destaques
era a abertura das portas, estilo “asa de gaivota”, como nos Mercedes 300 SL, compensando a baixa
altura do carro, de apenas 1,08 metro. Uma vez acomodados, motorista e
passageiros desfrutam do conforto dos bancos anatômicos de couro e do
ar-condicionado, equipamento obrigatório num carro que não abre os vidros. Um
exaustor de ar é ligado automaticamente quando o cinzeiro é aberto. O painel de
instrumentos com mostradores digitais, lançado em 1986, era completo e revestido de camurça preta e o afogador, é acionado
por um em estiloso controle deslizante e possuía indicação por barras luzes-espia
As rodas tinham desenho exclusivo.
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| Interior em couro e camurça |
A
posição de dirigir, o volante pequeno e a suspensão dura fazem lembrar um kart.
Mas a visibilidade é de furgão. Para trás, só resta apelar para os retrovisores
elétricos, emprestados do Monza. Uma das preocupações do autor do projeto foi a
de garantir um cockpit seguro, É por isso que debaixo da forração do teto vê-se
a saliência da barra central da "gaiola", semelhante à estrutura de
proteção da cabine dos carros de competição.
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| Motor entre-eixos turbinado |
Em
1988,com o lançamento do Santana AP 2000, o Hofstetter passou a utilizar esse
novo motor, que era preparado, turboalimentado e equipado com intercooler para
poder refriar melhor o ar do motor. Dependendo da preparação, ele podia chegar
aos 275 cv de potência.Na mesma época, um aerofólio traseiro de grandes
proporções foi adotado. Em 1990, o modelo recebeu algumas alterações como
spoiler e volante oval.
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| Simplicidade e sofisticação: acrílico pintado sobre tela metálica nas lanternas |
O
processo de produção artesanal, com um custo astronômico (o penúltimo teria
consumido 70000 dólares, segundo Hofstetter), e a ausência de uma estrutura de
vendas fizeram com que o carro deixasse de ser fabricado em 1991. No total, foram
fabricadas apenas 19 unidades, contando com o protótipo que deu origem ao modelo.
Destes, quinze foram comercializados.
Na edição de setembro de 1986, QUATRO RODAS levou o Hofstetter para a pista de testes. Foi chamado de "foguete" ao atingir quase 200 km/h e fazer o 0 a 100 em 9,3 segundos.
O Post de hoje retratou a história do carro que começou como um projeto do carro dos sonhos, que se transformou num dos mais exclusivos e encantadores esportivos fora de série já fabricados em nosso país, num tempo em que imaginação e a vontade de produzir o próprio carro, foram os fatores determinantes para o nascimento de importantes carros que compuseram nossa industria nacional.
Aguardem o próximo post e até lá.
Fonte: Quatro Rodas Clássicos, Revista Esportivos Brasileiros











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