terça-feira, 8 de dezembro de 2015




Clássicos Fora de Série Nacionais – Parte V



Esportivos Fora de Série: Hoffstetter Turbo




Um dos projetos mais interessantes de esportivos fabricados no Brasil, e que encantou muita gente nos salões do Automóvel  na década de 1980, o Hofstetter se caracterizava por estilo em cunha e formas angulosas, destacando-se as portas do tipo asa de gaivota. O motor VW de quatro cilindros com refrigeração líquida era equipado com turbocompressor, atrás dos bancos em um chassi do tipo tubo central. Pneus de competição, os mesmos usados no Opalas de Stock Car da época; freios a disco nas quatro rodas e suspensões independentes faziam dele um verdadeiro esportivo. A única ressalva é que na época não existia no país um motor digno para este modelo e nem era permitido importar.


Alfa Romeo Carabo 1968
O projeto nasceu em 1973, quando Mário Richard Hofstetter, então com apenas 16 anos de idade, começou a fazer um carro para quando completasse 18 anos e obtivesse sua habilitação para dirigir. A ideia era possuir um carro de sonho, baseado em dois modelos conceitos criados pelo designer italiano Giorgetto Giugiaro: o Alfa Romeo Carabo, apresentado em 1968, e o Maserati Boomerang, de 1971. Estes modelos nunca foram produzidos comercialmente, mas serviram de inspiração para muitos, como o Lamborghini Countach, lançado em 1974.
Lamborghini Countach 1974
Maserati Boomerang 1971










O projeto e a construção, feitos pelo próprio Mário Hofstetter, na garagem da casa de seus pais, na Vila Mariana, em São Paulo, demorou mais do que o planejado e ficou pronto somente em 1980. O chassi original era de um modelo de competição da Divisão 4, categoria de competição em alta nos anos 80. O câmbio era Hewland e o motor era um Ford Hart 2 litros, que havia sido usado por um monoposto March Fórmula 2 da equipe Willians,  em 1972 . Não funcionou: o danado trabalhava a nada menos que 12000 giros e se mostrou inviável para as ruas.



Andando pelas ruas de São Paulo, Hofstetter era constantemente abordado por interessados em comprar o carro. Ele partiu para desenvolver um projeto de produção em série do modelo, mas com chassi apropriado também desenhado por ele e carroceria em plástico com fibra de vidro. O motor era um VW MD 270, do Passat 1.6, rapidamente substituído pelo AP 1.8 do Gol GT equipado com turbocompressor que, com 0,9 bar de pressão, desenvolvia cerca de 185 cv.



O Chassi era do tipo tubo central em aço, com suspensão dianteira e o sistema de direção do Chevette e na traseira a mesma McPherson que o Passat utilizava na dianteira, porém invertida e câmbio também VW.  Outros componentes tinham origem nos Fiat 147, Opala, Corcel, Monza, Brasilia, Gol, caminhão Ford F-4000... Até o ônibus Mercedes-Benz monobloco cedeu a palheta única do limpador de pára-brisa. Numa tentativa de não enlouquecer proprietários e mecânicos, um detalhado manual/memorial descritivo era fornecido juntamente com o carro, com a finalidade de facilitar a identificação de peças na hora da reposição.



Um dos destaques era a abertura das portas, estilo “asa de gaivota”, como nos Mercedes 300 SL,  compensando a baixa altura do carro, de apenas 1,08 metro. Uma vez acomodados, motorista e passageiros desfrutam do conforto dos bancos anatômicos de couro e do ar-condicionado, equipamento obrigatório num carro que não abre os vidros. Um exaustor de ar é ligado automaticamente quando o cinzeiro é aberto. O painel de instrumentos com mostradores digitais, lançado em 1986, era completo e  revestido de camurça preta e o afogador, é acionado por um em estiloso controle deslizante e possuía indicação por barras luzes-espia As rodas tinham desenho exclusivo.

Interior em couro e camurça
A posição de dirigir, o volante pequeno e a suspensão dura fazem lembrar um kart. Mas a visibilidade é de furgão. Para trás, só resta apelar para os retrovisores elétricos, emprestados do Monza. Uma das preocupações do autor do projeto foi a de garantir um cockpit seguro, É por isso que debaixo da forração do teto vê-se a saliência da barra central da "gaiola", semelhante à estrutura de proteção da cabine dos carros de competição.

Motor entre-eixos turbinado
Em 1988,com o lançamento do Santana AP 2000, o Hofstetter passou a utilizar esse novo motor, que era preparado, turboalimentado e equipado com intercooler para poder refriar melhor o ar do motor. Dependendo da preparação, ele podia chegar aos 275 cv de potência.Na mesma época, um aerofólio traseiro de grandes proporções foi adotado. Em 1990, o modelo recebeu algumas alterações como spoiler e volante oval.  



Simplicidade e sofisticação: acrílico pintado sobre tela metálica nas lanternas

O processo de produção artesanal, com um custo astronômico (o penúltimo teria consumido 70000 dólares, segundo Hofstetter), e a ausência de uma estrutura de vendas fizeram com que o carro deixasse de ser fabricado em 1991. No total, foram fabricadas apenas 19 unidades, contando com o protótipo que deu origem ao modelo. Destes, quinze foram comercializados.

Na edição de setembro de 1986, QUATRO RODAS levou o Hofstetter para a pista de testes. Foi chamado de "foguete" ao atingir quase 200 km/h e fazer o 0 a 100 em 9,3 segundos.


O Post de hoje retratou a história do carro que começou como um projeto do carro dos sonhos, que se transformou num dos mais exclusivos e encantadores esportivos fora de série já fabricados em nosso país, num tempo em que imaginação e a vontade de produzir o próprio carro, foram os fatores determinantes para o nascimento de importantes carros que compuseram nossa industria nacional.  
Bom, espero que tenham gostado e apreciado uma ótima leitura sobre mais um retrato de nossa industria nacional, apesar da demora na atualização das postagens.

Aguardem o próximo post e até lá.

Fonte: Quatro Rodas Clássicos, Revista Esportivos Brasileiros

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